Realizado em Curitiba (PR), de 17 a 21 de outubro, o Concílio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) elegeu, pela primeira vez na história da igreja, uma mulher no cargo de pastora presidenta – Sílvia Beatrice Genz, que substitui, a partir de 2019, o atual pastor presidente, Nestor Friedrich. Para os cargos de pastor 1º vice-presidente e de pastor 2º vice-presidente foram eleitos Odair Braun e Mauro Batista de Souza, respectivamente. Outro destaque: o Concílio aprovou a moção de elaboração de uma política de justiça de gênero da IECLB, sob a coordenação do Conselho da Igreja.
Entre representantes, lideranças, delegadas, delegados, convidadas e convidados ecumênicos e equipe de apoio participam do concílio cerca de 200 pessoas. Na sua 31ª realização, o encontro foi orientado pelo tema Viver o Evangelho: empatia, compaixão, comunhão…, adequado para os atuais tempos de ódio e violência.
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O Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), o Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA) e a Fundação Luterana de Diaconia (FLD) tiveram oportunidade de falar aos conciliares. “A partir da incorporação do COMIN e do CAPA, somos todas e todos FLD, atuando em diaconia transformadora e afirmando o Reino de Deus e sua justiça, em um contexto que nos desafia cada vez mais”, disse a secretária executiva da FLD, pastora Cibele Kuss. “No culto de abertura, pastor Nestor citou o Manifesto de Curitiba, elaborado no VII Concílio Geral em 1970, que, entre outras questões, denunciava a ditadura militar e expressava apoio aos Direitos Humanos – é fundamental reafirmar esse compromisso no atual momento de fanatização e de violência política.”
De acordo com Cibele, já se perdeu direitos sociais e agora estamos perdendo direitos civis e políticos. “Ainda não há resposta sobre quem matou Marielle, vereadora carioca assassinada no dia 18 de março. Essa é uma pergunta nossa, uma pergunta diaconal. O que podemos fazer pela família que chora a morte de sua filha? O que podemos fazer para que jovens mulheres não venham a ter seus corpos marcados à canivete, com a imagem terrível de uma suástica nazista, como aconteceu em Porto Alegre? O que podemos fazer para que defensoras e defensores de direitos humanos não sejam assassinadas nos Brasil?”
A coordenadora programática e pastoral do COMIN, pastora Renate Gierus, falou sobre os 35 anos de atuação no apoio e na luta junto a povos indígenas – de caminhar ao lado da diversidade e de promover o seu fortalecimento cultural –. “São 35 anos de missão, ou seja, de ‘ir junto’ e são 35 anos de diaconia, ou seja, de ‘fazer junto’”, afirmou.
“Buscamos testemunhar vida digna e plena com povos indígenas, pois é disso que se trata – vida, partilha, convivência, justiça e direitos –. E o bonito é que a relação da IECLB com povos indígenas vem acontecendo desde 1961, ou seja, ainda antes do COMIN ser criado, a exemplo da Terra Indígena Guarita, no norte do Rio Grande do Sul. Significa que a caminhada tem 57 anos, e que possa seguir, especialmente nos tempos que virão”.
O coordenador do CAPA/Núcleo Marechal Cândido Rondon, Vilmar Saar, falou sobre os 40 anos do CAPA, celebrados em 2018, em nome das cinco Coordenações do CAPA – Erexim, Pelotas e Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, e Marechal Cândido Rondon e Verê, no Paraná. De acordo com ele, a IECLB criou o CAPA em um momento difícil e de exceção – em 1978 a ditadura estava em curso e o mercado ditava um modelo de desenvolvimento que tinha como base a produção agrícola em grande escala, o uso intensivo de agrotóxicos e a mecanização.
“A IECLB foi ousada e corajosa”, disse Vilmar. “E a semente plantada germinou e cresceu, com raízes firmes na realidade brasileira e nos contextos onde atua. O CAPA produziu frutos muito significativos, nas áreas da organização social, da cooperação, da produção, da agro-transformação e da comercialização, e vai continuar assim. Temos consciência das limitações de nossa atuação, mas sempre buscamos ser testemunho evangélico-luterano de que é possível e viável produzir de forma sustentável e ecológica”.
Um desses frutos é a atual campanha Comida Boa na Mesa, que promove uma reflexão permanente e incidência sobre o acesso à alimentação saudável e sobre o papel da agricultura familiar ecológica. “Vivemos uma realidade aonde as pessoas chegam a ter medo da comida. Muitas vezes uma mãe ou um pai, ao comprar comida para seus filhos, pergunta: ‘será que posso dar isso para a minha filha ou o meu filho comer?’”. Por isso, a importância da campanha e a importância da agricultura familiar ecológica para a segurança alimentar e nutricional de todas as pessoas.
(Da esq. para dir.) Cibele Kuss, secretária executiva da FLD, e Renate Gierus, coordenadora pastoral e programática do COMIN (de pé), Jhony Luchmann, coordenador do CAPA Verê, Vandeilson Ferreira de Almeida, técnico CAPA Rondon, Vilmar Saar, coordenador do CAPA Marechal Cândido Rondon, pastor Fábio Bernardo Rucks, vice-presidente da Diretoria da FLD, Cleci Terezinha Koch, conselheira da FLD, e Lorita Sonntag, conselheira do CAPA.
Fonte: FLD