O evento, realizado de 16 a 18 de novembro em Governador Celso Ramos (SC), contou com a participação de 51 pessoas. Entre elas, havia representantes de 31 instituições diaconais integrantes da Rede, 2 instituições convidadas, conselhos e grupos nacionais da IECLB que atuam no campo da diaconia e Secretaria de Ação Comunitária.
A Associação Wally Heidrich, administrada por mulheres integrantes da OASE (Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas) de 3 Sínodos de Santa Catarina, foi o local escolhido.
Uma análise do atual contexto nacional a partir da estrutura da sociedade brasileira, que tem por alicerce os privilégios da parcela branca da população, foi realizada pela Dra. Kércia Priscilla Figueiredo Peixoto, na tarde do primeiro dia do encontro.
Na manhã seguinte, o racismo estrutural foi aprofundado no painel “Não ser racista é pouco; o antirracismo é necessário”.
Juliana Soares, mulher negra kilombola, mestranda em educação; e Walderes Coctá Priprá, mulher indígena do povo Laklãnõ/Xokleng, doutoranda em arqueologia, relataram situações de exclusão vivenciadas por elas desde a infância. Lamentavelmente, ainda hoje elas se deparam constantemente com o racismo que, de forma perversa, nega aos corpos não brancos os direitos garantidos na constituição brasileira.
- Exemplo disso foi o ataque racista e misógino sofrido por Joziléia Daniza Jagso Inácio Jacodsen Schild a partir da sua participação na COP 27 no Egito, representando FLD-COMIN, ANMIGA e ARPINSUL. Jozi é mulher indígena da etnia Kaingang e é uma referência para a educação antirracista e para o diálogo intercultural entre povos indígenas e diversas organizações. Saiba mais clicando aqui.
Melina Perussatto, mulher branca e militante antirracista, doutora em história, apresentou dados sobre as condições encontradas pelas pessoas brancas e que não estão acessíveis às pessoas não brancas. O grupo foi motivado a refletir sobre a necessidade de pessoas privilegiadas pelo simples fato de serem brancas tomarem diariamente a decisão de ser antirracistas. O painel foi mediado por Sandro Luckmann, coordenador do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN).
A segunda parte do encontro foi reservada para as questões internas da Rede de Diaconia. O fio condutor dos trabalhos em grupos e plenárias foi “a Rede que somos e a Rede que queremos ser”. O Projeto Político Pedagógico foi revisitado sob o olhar do que deveria ser reafirmado e o que precisaria ser atualizado ou complementado. Pensar nas possibilidades e nos desafios para a sustentabilidade da Rede de Diaconia nos próximos anos, a partir de um contexto novo que requer maior participação e corresponsabilidade das instituições integrantes, foi outro exercício importante.
Também não faltaram espaços para reencontros e para a convivência, seja nas caminhadas pela areia ou nas brincadeiras durante a noite dedicada à integração e à confraternização, que renderam boas risadas e muita descontração.
Confira abaixo a Mensagem do Encontro:
Reunidas na cidade de Governador Celso Ramos (SC) mais de 30 instituições diaconais com vínculo confessional com a IECLB realizaram o III Encontro Nacional da Rede de Diaconia que aconteceu no mês de novembro de 2022.
Neste encontro compartilhamos mensagens de esperança que geram mudança e apontam para a diaconia transformadora.
O tema da igreja este ano nos lembra o que Jesus ensinou. “Amar a Deus e as pessoas” mesmo diante da incivilidade que normaliza o racismo, a injustiça, e a violência que geram ódio, sofrimento e morte. Através da aprendizagem do amor que Cristo nos ensina, somos envolvidas e envolvidos na vivência da Diaconia que denuncia essa incivilidade e nos encoraja ao acolhimento e ações antirracistas.
A Doutora Kércia Priscilla Figueiredo Peixoto, professora e pesquisadora em Ciências Sociais; a Mestranda em Educação Juliana Soares, Mulher Negra Kilombola, licenciada em Educação do Campo e Assessora de Projetos de FLD – COMIN – CAPA; a Doutoranda em Arqueologia Walderes Coctá Priprá, mulher indígena do povo Laklãnõ/Xokleng, Mestra em História; e a Doutora Melina Perussatto, mulher branca, Professora, coordenadora do Pine – Projeto Imprensa Negra Educadora, licenciada, mestra e doutora em História, explanaram sobre o racismo estrutural, a branquitude, a exclusão indígena e de pessoas negras em nossa sociedade atual. Isso nos provocou a reconhecer o racismo presente em nosso dia-a-dia.
Assim, a Rede de Diaconia reafirma seu compromisso na igreja e na sociedade civil de defesa de direitos que promovam a inclusão, o acolhimento e a compaixão.
Uma Rede tecida por vidas em contextos diversos, é feita por pessoas que partilham a visão de uma realidade de sociedade digna, justa e equitativa. Uma realidade em que a paz não é um sonho utópico ou privilégio de uma classe ou cor, mas a condição inegociável da humanidade, de vida plena e abundante em toda a criação e para toda e qualquer pessoa.
Você também é convidada e convidado para tecer a Rede de Diaconia conosco, trazendo a sua vivência para trilharmos com esperança um caminho de amor e paz.
“Resistimos ao cansaço e vencemos a timidez. Procuramos nosso espaço para garantir a nossa vez.”**
*(HPD 443, letra e melodia de Rodolfo Gaede Neto)
** Idem
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