Cinquenta e quatro pessoas, de 35 organizações diaconais de todo o Brasil, participaram do Encontro Nacional Online da Rede de Diaconia com o tema As Instituições Diaconais no Contexto Brasileiro: Desafios e Possibilidades. O evento, que aconteceu na quarta-feira, 22 de setembro, foi promovido pela Rede de Diaconia, como uma das atividades de formação do ano.
Dirci Bubantz, assessora de projetos da FLD vinculada à Rede de Diaconia, lembrou que, há dois anos, muitas e muitos estiveram em Florianópolis (SC) participando presencialmente do II Encontro Nacional da Rede de Diaconia.
“Muita coisa mudou na vida de todas e de todos nós desde março de 2020. Muita coisa mudou no cotidiano das instituições que integram a Rede de Diaconia e que vocês representam neste encontro on-line. E arrisco a dizer que as mudanças que ocorreram na vida das pessoas que são a razão de ser das instituições diaconais foram as mais dramáticas. E porque assim foi e porque assim continua sendo, a forma de pensar e de realizar a diaconia também mudou. A diaconia transformadora é sustentada pela atuação de Jesus, que proclamou o Reino de Deus, e cuidou de quem precisava de cuidados. O seu exemplo nos ensina que as ações andam juntas. É com essa certeza, que queremos nessa tarde refletir, aprender e partilhar sobre os desafios e as possibilidades que temos, não só para consolar, mas também para cuidar.”
Para analisar essas mudanças, a convidada Erica Monteiro do Bomfim Bordin, mestre e doutora em Serviço Social pela PUCRS, técnica, gestora, pesquisadora e assessora no campo das Organizações da Sociedade Civil, deu continuidade à programação com uma análise de conjuntura intitulada As Organizações da Sociedade Civil e o Contexto da Política de Assistência Social.
Erica frisou que, para falar de política social, precisamos lembrar que o Brasil é um país jovem, que foi invadido há pouco mais de 500 anos, com passado colonial e escravocrata. “A pobreza é um problema estrutural no Brasil. As pessoas que detém o capital, os meios de produção, se beneficiam da riqueza produzida pela classe trabalhadora, enquanto essa recebe uma parcela muito pequena como salário. O Brasil é o 9° país mais desigual do mundo, com uma minoria muito rica e a grande maioria pobre, muito pobre ou abaixo da linha da pobreza.”
Ela também mapeou a história das políticas sociais no país desde sua construção até os dias de hoje. “A partir da constituição cidadã, promulgada em 1988, teve início um processo de construção de políticas públicas visando a seguridade social das pessoas mais vulneráveis. Nesse momento, porém, a Europa já estava adotando os ideários neoliberais, a partir dos quais o estado não é responsável pelo bem estar social, sendo o mercado capaz de regular as demandas. A partir de 2014, a crise econômica mundial atinge o Brasil; e, assim como na Europa, a primeira medida foi o corte nas políticas sociais. A reforma trabalhista e a emenda constitucional 95 – teto dos gastos, aprovadas em 2016, afetaram de forma brutal as políticas sociais e, consequentemente, a vida das pessoas mais pobres, especialmente das pessoas negras e mulheres. Os índices de pobreza, que haviam diminuído em 2008, voltaram a crescer em 2016 com a crise econômica e atingiram o ápice com a pandemia.”
Além de trazer dados históricos sobre o crescimento da pobreza e do desemprego no país, que impactam diretamente no trabalho desenvolvido pelas OSCs, Erica também pontuou como as organizações tiveram que se reinventar para continuar o trabalho em meio a pandemia.
“Enquanto operadoras e operadores da saúde foram as primeiras pessoas a serem vacinadas e tinham todo um primeiro protocolo de cuidados, o pessoal da assistência, pelo menos nos municípios que eu acompanhei, não entraram na fila prioritária de vacinação, mesmo estando na linha de frente em todo o momento. Então teve toda uma necessidade de adaptação de metodologias e de rotinas de atendimento. Foi um desafio continuar atendendo dentro de uma insegurança que diz respeito à vida (e à morte).”
Irma Schrammel, coordenadora do Centro Social Heliodor Hesse, em Santo André (SP), retratou bem esse desafio. “A emergência durante a pandemia era tão grande que é difícil entender o sentido que as políticas sociais estavam fazendo pra população. As pessoas estavam em pânico, com fome, tendo que ficar em casa e não podendo trabalhar. Foi um desafio muito grande a implementação de trabalhos online. A gente teve que se superar e se reinventar. E ainda não sabemos os desafios que temos pela frente dentro desse novo cenário.”
Como perspectivas para a atuação das OSCs, Erica ressaltou que, para ela, a chave de qualquer tipo de mudança passa pela participação. “Precisamos ir unindo forças, e a Rede de Diaconia é uma estratégia disso, de ser uma rede forte que pode tensionar espaços em conselhos e em agendas do governo”.
Na segunda parte do evento, quatro oficinas de interesse foram oferecidas para as pessoas participantes: Aprimorando as ferramentas para lidar com a pandemia, com Luiz Alves, coordenador da Instituição Diaconal Centro para Crianças e Adolescentes na periferia de São Paulo (SP), e Paulo Carvalho, trabalhador autônomo e voluntário na Instituição Diaconal Centro para Crianças e Adolescentes na periferia de São Paulo (SP); Promotoras Legais Populares – PLP’s: uma alternativa de superação a violência doméstica, com Graciela Cornaglia, mestra em Educação, Promotora Legal Popular e militante do movimento de mulheres; Técnica de Redução de Estresse (TRE), com Simone Grube, facilitadora de TRE no Centro Social Heliodor Hesse e voluntária no projeto de TRE na Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Carla Jandrey, facilitadora de TRE e coordenadora da Diaconia da IECLB, e Mariane Schneider, facilitadora de TRE e atuante no CRAS de Imigrante/RS; e Como cultivar o relacionamento com pessoas doadoras e potencializar a sua captação de recursos, com Isabella Onzi Flores, assessora de Relacionamento com Pessoas Doadoras de FLD-COMIN-CAPA e mestre em captação de recursos pela Social Change School.