​Gênero: Pella construção de relações justas entre as pessoas

​Gênero: Pella construção de relações justas entre as pessoas
18 de maio de 2018 zweiarts
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No Centro de Convivência da Associação Beneficente Pella Bethânia são realizadas, diariamente, atividades pedagógicas. Dentro delas, são desenvolvidas as oficinas sobre Relações de Gênero. Faço parte destas atividades especificamente na ênfase à (re)leitura bíblica. Está sendo uma tarefa gratificante. Revisitar os textos bíblicos com este olhar que busca por relações justas entre as pessoas oportuniza a percepção do protagonismo das mulheres na Bíblia e além dela. Ao mesmo tempo, reforça a importância da diaconia transformadora, vivenciada na prática da sororidade.

As oficinas sobre Relações de Gênero, a partir de textos bíblicos, têm em seu horizonte o desafio de descortinar e desconstruir esta cultura do silêncio e da violência contra a mulher, tendo como lugar de partida a realidade vivenciada, com todas as suas tensões, dores e sofrimentos. E são muitas! Através da retomada destas vivências à luz do texto bíblico vai se construindo uma nova percepção, um novo olhar, mas não sem dificuldade. É constante o exercício de superação de papéis e atitudes que são opressivas às minorias, em especial às mulheres. Neste exercício, eu diria, está alojada a maior dificuldade. Como dar o passo para assumir o “ser sujeito”, se em nós está tão arraigada, desde a infância, a cultura da dependência, da submissão dentro de um sistema injusto, que promove o individualismo em detrimento de um pensar e agir mais colaborativo? O exercício do ministério pastoral, ao longo dos anos, tem me ajudado a perceber pequenos sinais através desta re-aproximação dos textos bíblicos.

Cito um exemplo: ao trabalhar a figura de um labirinto, os/as residentes comentavam que “o individualismo prejudica a comunicação entre as pessoas; elas só pensam em si. É uma insensatez! Traz desarmonia. Muros muito altos. Caiu o muro de Berlim, mas estes (da figura) são muito altos. Ter individualidade é bom. Mas não é bom ficar isolado. É necessário manter boas relações entre homens e mulheres”.

Quanto ao estudo de Marta-Maria (Lc. 10.38-42), as e os participantes da oficina observaram que “ninguém quer ser Marta, porque ela está sobrecarregada. É injusto com ela.” Até aqui se manifesta uma visão polarizada, de oposição entre as duas, fruto de um acesso anterior ao texto bíblico dentro de uma interpretação corrente. Dentro desta tradição teológica, Marta e Maria são vistas como rivais. Ao mesmo tempo, na atualização da narrativa, concluem que “é bom Jesus ter ajudado também”, porque acontece transformação das relações “a partir de uma justa distribuição das tarefas”; “Jesus então, como prova de sua amizade, disse para Marta e Maria que partilhar é essencial, e, com isto, passou a auxiliar ambas, nos trabalhos da Marta como nas palavras, Maria”.

Mas abrir caminhos de acesso à construção da equidade de gênero é tarefa que requer cuidado e disposição. Não passa pelo simples e usual “pronto, falei!”. Significa, antes da mais nada, promover espaços de acolhimento, que sejam seguros para as pessoas que trazem em sua carga emocional traumas relacionados a vivência dentro de uma cultura patriarcal opressora. E pessoas com deficiência e/ou idosas trazem isso de forma marcante consigo. Somente a partir desses espaços se torna possível o questionamento dos argumentos bíblicos e culturais que atribuem às mulheres os papéis opressivos, socialmente construídos.

Pastora Marli Lutz, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Pastoral Pella Bethânia