​Nós existimos e, mais do que isso, resistimos

​Nós existimos e, mais do que isso, resistimos
10 de março de 2017 zweiarts
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​Nós existimos e, mais do que isso, resistimos

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O Seminário Celebrativo dos 10 anos da Exposição Nem Tão Doce Lar, realizado no dia 9 de março, na PUCRS em Porto Alegre (RS), teve início com a mesa Justiça de gênero e superação das violências. Edla Eggert, do Programa de Pós-Graduação em Educação – Escola de Humanidade/PUCRS (PPGEdu), e Marcia Blasi, do Programa de Gênero e Religião da Faculdades EST (PGR-EST), falaram sobre o tema, com a mediação de Cibele Kuss, secretária executiva da Fundação Luterana de Diaconia (FLD).

Na parte da manhã, falou-se sobre a importância de uma Política de Justiça de Gênero. “A justiça de gênero se expressa por meio da igualdade e relações equilibradas de poder entre mulheres e homens”, afirmou Marcia Blasi. Para Edla, quanto mais falarmos sobre o assunto, mais avançaremos na desconstrução da ideia de que a mulher foi feita apenas para auxiliar o homem. “Precisamos de mais momentos como este para mudar essa realidade”.

À tarde, foi realizada a mesa Políticas públicas: viver sem violência, direito de mulheres e de homens, com a participação de Maria Luiza Pereira de Oliveira, do Sempre Mulher Instituto de Pesquisa e Intervenção sobre Relações Raciais, de Patrícia Grossi, do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social – Escola de Humanidade/PUCRS, e de Adilson Schultz, pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), que trabalha na perspectiva dos novos modelos de masculinidades. Adilson acompanhou os trabalhos realizados por uma ONG de Belo Horizonte que atua no acompanhamento a homens agressores encaminhados pelo Poder Judiciário. A mediação ficou a cargo de Leunice Martins de Oliveira, do NEABI/PUCRS – Escola de Humanidades.

Para Patrícia, a violência baseada em gênero causa um profundo impacto: “as mulheres acabam inibindo seriamente a sua capacidade de desfrutar os direitos e as liberdades em uma base de igualdade com os homens”, disse.

Para Adilson, esse efeito é uma forma de manipulação indireta. “Quando um homem comete uma violência contra uma mulher, automaticamente não só a vítima, mas todas as mulheres daquele grupo ficam redis e acabam mudando o jeito de se portar e de se vestir.”

Maria Luiza falou sobre o crescimento do feminicídio entre mulheres negras que, segundo o Mapa da Violência de 2015, cresceu 54% em 10 anos, enquanto que as mortes de mulheres brancas caíram 9,8%. “É preciso questionar se as políticas públicas de enfrentamento da violência, sem levar em consideração a parte racial, são mesmo eficientes”, disse.

Ao final da tarde, Elisandra Carolina dos Santos, personagem principal do curta Carol e coordenadora do Grupo Inclusivass, juntamente com Giovane Antônio Scherer, do GEJUP/PUCRS – Escola de Humanidades, responsável pela mediação, abriram a roda de conversa A arte como potência na prevenção das violências na vida ordinária.

Carol falou sobre as violências que mulheres com deficiência sofrem todos os dias. “As mulheres já são excluídas e invisibilizadas de forma geral, imagina as mulheres com deficiência?” Além disso, ela apontou o agravante de pesquisas não contabilizarem essas violências por não haver o registro de dados. “Se vamos registrar uma denúncia na delegacia, a mulher cadeirante não consegue entrar, porque só há escadas, a mulher surda não consegue denunciar, porque não há interpretes, e assim por diante. Elas acabam desistindo e não são vistas”.

Carol integra o Inclusivass há três anos, que luta por visibilidade, acessibilidade e reconhecimento. “Nós existimos e, mais do que isso, resistimos!”

A última mesa do seminário, Iniciativas de superação das violências/novas perspectivas, composta por Marlene Strey, do PPG Psicologia/PUCRS – Escola de Humanidades, e Télia Negrão, do Coletivo Feminino Plural, contou com a mediação de Rogério Oliveira de Aguiar, assessor de projetos na FLD.

Marlene iniciou questionando a pedagogia da violência, método de educação que ensina crianças desde pequenas a serem violentas para se defenderem e conseguirem o que querem.

“Os homens não nascem violentos, mas aprendem a agir dessa forma para que, de alguma maneira, possam solucionar seus problemas”. No entanto, ela explica que isso não é algo transmitido intencionalmente pelas mães e pelos pais. “As crianças aprendem esse comportamento por meio da observação de pessoas ao seu redor, como na escola, em brincadeiras, na família, com amigas e amigos e também pela televisão”, completa.

Segundo Télia Negrão, essas violências atingem todas as mulheres. “A não ser que alguém viva numa caixa, isolada, sem contato com absolutamente ninguém, todas são atingidas, seja por meio das mídias em veículos de comunicação, seja pelas redes sociais, por produções literárias, sessões de entretenimento ou qualquer outro tipo de vivências com humor”.

A situação se agrava com a retirada de direitos e políticas públicas. “As mulheres e os homens que estão ao lado das mulheres, precisam, agora mais do que nunca, tomar conta dos seus espaços na cidadania e lutar pela democracia”, finaliza Télia.

O Seminário foi promovido pela FLD em parceria com a Escola de Humanidades da PUCRS, o Coletivo Feminino Plural, o Grupo Inclusivass e o Programa Gênero e Religião da Faculdades EST.

Fonte: FLD