A inserção voluntária de estudantes do curso de educação social da Associação Diacônica Luterana (ADL) no Lar Padilha/ABEFI, assim como a inclusão de jovens atendidas e atendidos no Lar Padilha como estudantes na ADL, vem acontecendo ao longo dos três últimos anos. A partir do projeto Redes em Rede, apoiado pelo Programa de Pequenos Projetos da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), o Lar Padilha, localizado em Taquara (RS), e a ADL, situada em Afonso Cláudio (ES), que integram a Rede de Diaconia, deram início a uma série de ações em parceria, buscando a partilha de conhecimentos entre as equipes das duas instituições e a vivência de novas experiências pelo público usuário de ambas.
Um resultado concreto e promissor da parceria entre as duas instituições foi a contratação de Samara Schereder e de José Felipe da Silva, educadora e educador social com formação na ADL e que há mais de um ano integram a equipe do Lar.
Esse processo tem despertado interesse em jovens estudantes da ADL que, a partir da conclusão do curso, sentem-se motivadas e motivados a se inserir profissionalmente nas instituições diaconais.
Aproveitando esse interesse, no mês de novembro foi promovido um encontro virtual entre a Samara e o José Felipe com a Ranielia Gonçalves pereira e o Bruno Kriger Neitzel, que concluíram o curso na ADL e estão se candidatando para atuar no Lar. O momento foi de partilha das experiências e esclarecimentos por parte de quem já trabalha na instituição e quem quer se juntar à equipe.
Perguntada sobre o que a move na busca pela vaga, Ranielia argumentou: “Sou uma mulher preta, e dentro do contexto social fundamentado em uma pirâmide, sou inserida politicamente em situações sociais desafiadoras. Ao me colocar diante dessa visão, percebo que a sociedade de forma geral necessita de transformações, para que o respeito, equidade e solidariedade reinem. Utilizando um dos maiores recursos para isso, a educação social, que abrange um amplo campo de atuação pedagógica, consigo perceber situações ocorrentes e intervir de forma humana e educacional. Através da educação social viso o cuidado e o apoio afetivo para que as pessoas ao meu redor sejam metamorfoseadas como no efeito borboleta analisado por Edward Lorenz em 1963. Segundo a cultura popular, a teoria refere que o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo”.
Já Bruno citou Paulo Freire ao indicar o que o motiva a se candidatar como educador social no Lar Padilha: “Freire diz que o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática, pois pensando nas ações do passado (seja de 100 anos atrás ou mesmo ontem) pode-se melhorar a próxima prática. É através desta frase que disponho a proposta com base na educação social, através de instrumentos de atuação para transformar o “educando”, a “educanda”, o pensamento e a vivência social, para garantir a formação de pessoas que sejam sujeitas, conscientes, críticas e autônomas, possibilitando uma maior relevância social.
João Batista Morais, Coordenador do Lar Padilha que acompanhou o encontro das jovens e dos jovens, falou da felicidade em dividir este momento de partilha de experiências num ano tão difícil como este. “Não é só a pandemia que tem dificultado as ações das instituições, mas a falta de empatia, o retrocesso na implementação das políticas públicas, a polarização ideológica e o crescimento de um conservadorismo tóxico que não aceita as mudanças necessárias para nossa sociedade viver a diversidade, a justiça e a vida em plenitude. Tudo isso faz a gente pensar, mesmo na correria do dia a dia, que precisamos fortalecer as nossas instituições e que trabalhar em rede é o caminho”.
Complementando a informação, João relatou que o projeto de intercâmbio de educadoras e educadores sociais da ADL e de contratações para atuação no Rio Grande do Sul já se expandiu para outras instituições da Rede de Diaconia. Citou como exemplo o caso da Instituição de Educação Infantil Lupicínio Rodrigues/CEPA, de Porto Alegre (RS), que já contratou duas jovens formadas na ADL.
A execução das ações previstas dentro do projeto Redes em Rede foi encerrada em 2019. Os reflexos, porém, continuam e comprovam que uma atuação em rede pode ir além do previsto, desencadeando uma série de novas possibilidades para as instituições da Rede de Diaconia.